“Sou um grande crente na transparência de agenda. Mas cheguei a um certo ponto em que as minhas reuniões se tornaram… muito interessantes”.
Yoel Roth . Chefe Censor do Twitter

 

O terceiro lote dos “Twitter Files”, publicado pelo jornalista independente Matt Taibbi, revelou que o ex-chefe censor do Twitter, Yoel Roth, chegou ao ponto de brincar com o facto da sua empresa ser cúmplice com entidades de inteligência governamental nas operações de censura que desenvolvia.

Depois de 6 de Janeiro de 2021, as comunicações internas mostram que os executivos do Twitter mantinham relações de conluio de tal forma rotineiras com as agências federais que até as retratavam com humor, lamentando a falta de descrições ‘suficientemente genéricas’ para esconder os seus ‘muito interessantes’ parceiros de reunião.

Em resposta a um colega que comentou

“Reunião de negócios muito aborrecida que não é definitivamente sobre o Trump ;)”

Roth respondeu

“Preeeeeeeetty much”.

Roth escreveu noutra mensagem:

“Eu juro que NÃO reuni com o FBI.”

 

 

Estas mensagens oferecem mais provas de coordenação explícita entre entidades governamentais e o Twitter para censurar contas conservadoras e indicam que a suspensão da conta do então presidente dos EUA, Donald Trump, terá sido feita de acordo com o FBI.

O segundo lote de ficheiros Twitter, publicado pela jornalista independente Bari Weiss na quinta-feira, revelou que o líder da Equipa de Resposta Estratégica (SRT) da empresa, um grupo designado para dirigir as operações de censura e redução de alcance de contas conservadoras na plataforma, era Jeff Carlton, um antigo analista da CIA e do FBI, de acordo com a sua página do LinkedIn.

Esta semana, o CEO do Twitter Elon Musk revelou também que o conselheiro geral adjunto da empresa, Jim Baker, que desempenhou um papel fundamental na supressão da história do portátil de Hunter Biden, era um antigo conselheiro do FBI.

Semanas antes das eleições de 2020, o Twitter impediu os utilizadores de publicar ligações às histórias bombásticas do New York Post, que implicavam o então candidato Joe Biden e o seu filho Hunter em negócios potencialmente criminosos no estrangeiro. Os e-mails que mostraram o envolvimento directo do ex-vice-presidente com os esquemas de tráfico de influências de Hunter Biden eram provenientes de um portátil abandonado em Delaware. Apesar de não haver provas de que o computador tenha sido pirateado, o Twitter censurou a história em toda a plataforma, citando a sua política de materiais pirateados. O primeiro lote dos “Twitter Files” lançado na semana passada mostrou que a empresa obliterou deliberadamente as notícias do Post, por puro falangismo partidário.

Jim Baker desempenhou um papel fulcral na censura da história no Twitter como conselheiro geral adjunto da empresa, aconselhando cautelas aos colegas, justificada pelo falso argumento de que o conteúdo poderia ser a consequência de um hack. Antes de se juntar ao Twitter, Baker foi fundamental na operação do FBI para minar a campanha e depois a presidência de Donald Trump, através da fabricação e veiculação de um embuste: a história de que Trump era um operacional ao serviço dos russos. Musk despediu-o do Twitter na terça-feira e anunciou essa decisão num tweet.

“À luz das preocupações sobre o possível papel de Baker na supressão de informação importante para o esclarecimento público, ele foi hoje excluído do Twitter. A sua explicação [para suprimir a história do portátil] foi… pouco convincente.”

Outro post de Taibbi revela que o Director de Políticas do Twitter, Nick Pickles, perguntou aos colegas se os quadros da empresa podiam referir-se às relações entre o Twitter, o FBI e o Departamento de Segurança Interna como “parcerias”.

 

 

Na sua série de posts da passada sexta-feira à noite, Taibbi expôs com ainda maior profundidade a natureza partidária das operações de censura do Twitter. A 9 de Outubro de 2020, alguém partilhou um tweet de Trump com Roth que dizia:

“Breaking News”: 50.000 ELEITORES de OHIO estão a receber boletins de voto ERRADOS. Fora de controlo. Uma eleição manipulada!”

Um  quadro do Twitter, cujo nome foi apagado, contribui para a conversa:

“‘[A] ‘eleição manipulada’ seria suficiente para estar em violação das políticas?”

Roth responde:

“Se a alegação de facto fosse inexacta, sim.”

E depois acrescenta, com uma ligação a um artigo da NPR:

“Mas parece que isso é verdade”

Apesar de os empregados saberem que os factos eram exactos, o tweet foi submetido a restrições de alcance e constitui uma das razões pelas quais, posteriormente, a conta de Donald Trump foi suspensa.

 

 

Estas revelações, como na verdade todas as anteriores, não trazem nada de novo. Quer dizer, nada que o Blogville, primeiro, e o Contracultura nos últimos meses, já não tenham tentado trazer à atenção das suas audiências. Isto não quer dizer que aquilo que Elon Musk, Matt Taibbi e Bari Weiss estão a fazer não seja importante, até porque, como todas as teorias, as conspirativas precisam de ser materializadas pelos factos. E os factos são agora públicos e inequívocos, graças à publicação destes ficheiros.

Há porém um momento neste thread de Taibbi que revela um facto que nem os mais ousados teóricos da conspiração poderiam conjecturar: aparentemente, a rapaziada do Twitter estava seriamente empenhada em criar um algoritmo que controlasse em tempo real todas as facetas do discurso de todos os utilizadores desta rede social.

 

 

O carácter orwelliano deste projecto, que até os mais altos e qualificados técnicos da empresa levaram a sério, diz muito sobre a mentalidade que vigora em Silicon Valley. E apesar de se tratar obviamente de uma tarefa praticamente impossível de implementar naquele momento específico, isto não quer dizer que a ideia de controlar todas as dimensões da expressão humana na web não seja praticável a curto prazo. Porque a volição fascista está lá. Os recursos financeiros estão lá. E os meios tecnológicos, principalmente os que estão relacionados com as redes neuronais e respectivos sistemas de inteligência artificial, podem garantir o sucesso desta ambição de radical espírito totalitário.