É preciso ser muito alienado – e escandalosamente rico – para pagar uma fortuna imensa por esta maravilha da arte contemporânea.

 

 

A “obra” é da “autoria” de Cy Twombly, que será um vigarista profissional de inegável talento, será um prestidigitador competente, será um grande mestre da fraude, será um competente tipógrafo de gatafunhos, mas não podemos na verdade classificá-lo como pintor. Nem de telas nem de fachadas, nem de paredes, nem de nada que possa ser feito com tinta.

Afinal, quem contrataria este senhor para pintar uma garagem devoluta?

Mas na terça-feira passada, num leilão em Nova Iorque, houve de facto um débil mental que ofereceu 41,6 milhões de dólares por esta obscenidade.

Convenientemente intitulado “Sem Título” (dar um nome à coisa exigiria um esforço criativo desumano a Twombly) a tela de 5 metros de largura estava à espera de enganar alguém desde 2005.

A memória descritiva deve ter dado mais trabalho a escrever do que a tela deu a pintar. Reparem bem na pretensão e na imaginação do redactor:

Criado em 2005, Untitled é envolto em aplicações circulares de tinta vermelha que desafia o olhar num ciclo de espirais violentas. A série, criada entre 2003 e 2008, foi inspirada pela antiga divindade greco-romana, Baco, o deus do vinho, que de certa forma reflecte as alegrias que o álcool pode trazer, ao mesmo tempo que imbui uma sensação de loucura que pode ser um subproduto do vício do álcool, referindo-se à dupla natureza do antigo deus grego e romano do vinho, a intoxicação e o deboche.

Não. Não é bem disso que se trata. Embora seja por demais evidente que tanto o “artista” como o novo proprietário da “obra” abusem claramente de substâncias, alcoólicas, que lhes roubam a lucidez, o decoro e o gosto, ninguém olha para este atentado à decência e lê o que o parágrafo pretende que seja lido. É como Maxwell Parrish, o virtuoso artista plástico e designer gráfico americano, dizia: a arte pós-moderna precisa sempre de uma memória descritiva para ter significado.

É por estas e por outras que, como conta Paul Joseph Watson neste eloquente segmento, há obras penduradas ao contrário durante décadas nos museus de arte moderna, sem que ninguém dê por isso…

 

 

O ContraCultura defenderá até ao último dos seus parágrafos o direito à propriedade e a liberdade que cada um deve ter para gastar o seu dinheiro como bem lhe apetecer. Mas não deixa de ser preocupante que as sociedades contemporâneas validem como artistas e premeiem material e imaterialmente agentes provocadores sem qualquer talento, que oferecem nenhum contributo para o património estético do seu tempo, que não fazem mais que libertar insultos ou banalidades, que o aparelho cultural instituído eleva de forma aberrante a patamares artísticos.

Não deixa de ser profundamente imoral que estes riscos inócuos e abstrusos, técnica e criativamente abaixo do que uma criança de escola primária consegue desenvolver, sejam transaccionados por fortunas inimagináveis, para gáudio de elites que vivem completamente desfasadas da realidade económica e social envolvente.

Se para alguma coisa servem as “criações” deste vigarista é como ilustração do declínio civilizacional em que deslizamos vertiginosamente, nos dias que correm.

A tela de Twombly foi a mais cara do leilão da Phillips, que corretou cerca de 139 milhões de dólares em baixa mercadoria deste género. O The Art Newspaper afirma que estes valores denunciam alguma cautela do mercado da arte. Imaginem o que seria sem cautela nenhuma.