O vídeo que corre em baixo é trágico-cómico. Depois de se esforçar arduamente, durante 54 minutos, por convencer a sua audiência que a Física contemporânea tem no Modelo Standard a teoria unificadora com que sempre sonhou, o bom do David Tong confessa (no momento em que o clip foi programado para começar), mal disfarçando o seu desgosto, que a teoria deve estar errada. Que a equação repleta de buracos que até aqui, no correr da palestra, tinha vendido como a máxima conquista da ciência humana, não encontra bom reflexo na realidade.

 

 

A conversa do professor de Física Teórica de Cambridge é fascinante, claro, e recomendo àqueles mais interessados por ciências e pela Teoria Quântica de Campo que lhe dediquem o tempo que sem dúvida merece e a vejam desde o princípio. Mas o anti-clímax dos últimos cinco minutos oscila de facto entre o drama e a comédia: o drama interpretado pela comunidade científica que, chafurdando perpetuamente na falsa esperança de um momento de glória, só encontra no campo do que é observável um rotundo silêncio, uma parede muda, impenetrável, que lhe nega o acesso aos segredos do cosmos. E a comédia que explode sobre a pretensão do Sapiens e sobre o estado de negação manifestado por muito físicos quando confrontados com a falência das suas conjecturas.

O desfasamento entre as mais ambiciosas aspirações desta gente e a ignorância que permanece sobre a natureza da matéria, por exemplo, devia acalmar os mais cautelosos e avisar os mais cínicos. Mas não. Nem o facto de desconhecerem tudo (menos o peso) sobre a matéria negra, que é de longe o mais abundante elemento constituinte do universo (provavelmente será até uma multitude de insondáveis elementos), promove nestas cabeças teimosas um mínimo cepticismo ou um vestígio de análise crítica sobre as suas mais delirantes teorias. Extrapolando de forma assaz criativa a partir do muito pouco que sabem, acham que têm boas hipóteses de acabar por saber tudo, rapidamente, só porque imaginaram umas abstrações matemáticas e montaram nos arrabaldes de Genebra uma dispendiosa máquina que faz colidir partículas. Lamentavelmente, a epistemologia prova sem margem para dúvidas que não é bem assim que a coisa funciona.

Uma simples pergunta que nunca fazem estes académicos é, talvez, a mais pertinente de todas: será o universo cientificamente cognoscível? Ou, posta a questão de outra maneira, será a ciência materialista um recurso apropriado para dominar o pleno da realidade? Ou ainda, virando a interrogação de pernas para o ar: serão os segredos fundamentais do cosmos acessíveis ao Homo Sapiens?

A cada dia que passa, a resposta a estas três variações da mesma pergunta parece ser: desgraçadamente, NÃO.