Mary Beard instala a dúvida metódica.
Equívocos, falsificações, ignorância, egocentrismo, carreirismo. Uma quantidade substancial de desvios à verdade histórica e às evidências arqueológicas dificultam a atribuição assertiva de rostos a nomes: estátuas de césares são alteradas conforme as narrativas regimentais; bustos de aristocratas trocam de identidade ao longo do tempo; faces de imperadores cunhados nas moedas são catalogados em função de modas e correntes; representações em pinturas clássicas são interpretadas sob premissas discutíveis. E os embustes passam assim a espólio de museus. E os erros de interpretação passam assim a teses académicas.
Nesta bem disposta e entretida palestra de Mary Beard, a célebre e mediática professora de Cambridge demonstra que muitas das associações que são feitas entre os rostos de pedra, de bronze e de óleo sobre tela e as personagens reais do Império Romano não sobrevivem a uma análise informada e racional, nem à peritagem forense.
Um momento de lucidez e boa polémica, que nos obriga a redesenhar a imagem que temos dos protagonistas da civilização que Rómulo fundou.
Haroun Binous especula com virtude tecnológica.
Talvez inspirado pela dúbia credibilidade da estatuária de que fala Mary Beard, o Suíço Haroun Binous investiu muito em pesquisa e combinou a inteligência artificial e o Photoshop para recriar, em imagem real, os rostos de uma quantidade significativa de imperadores romanos. O Mystery Scoop ajudou, aplicando técnicas de animação vídeo e o resultado é deveras interessante. Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio, Nero e companhia limitada, como nunca foram vistos.
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