Um episódio ocorrido em 2021 e protagonizado pela revista APS Physics e por Sabine Hossenfelder constitui uma eloquente ilustração da decadência das academias e de como a Cancel Culture e o Group Think estão a destruir o espírito científico com intensidade alucinante. A publicação convidou a professora do Instituto de Estudos Avançados de Frankfurt para escrever um artigo sobre os excessos especulativos da física contemporânea. Sabine, fazendo uso da sua proverbial frontalidade, escreveu um. O chefe de redacção achou que o artigo era demasiado sincero e recuso-o.
Convém sublinhar que a objecção não tem nada a ver com a validade dos argumentos da cientista alemã. Tem só a ver com o medo de ofender a sensibilidade de alguém (precisamente os físicos que fazem da especulação delirante o seu ganha pão e que Sabine critica). Portanto: a verdade não interessa. Interessa o que é conveniente. Interessa não incomodar ninguém. Interessa manter o status quo.
Acontece que, como todos sabemos ou deveríamos saber porque é historicamente evidente, a ciência não progride assim. A ciência progride através da crítica. A ciência progride através da dialéctica. A ciência progride quando é inconveniente, quando incomoda, quando rompe com o status quo.
E nem é preciso dizer mais nada, porque Sabine Hossenfelder fala por si.
Os dois primeiros parágrafos do texto que Sabine redigiu são de facto contundentes, mas estão carregados de verdades:
Imagination and creativity are the heart of science. But look at the headlines in the popular science media and you can’t shake off the feeling that some physicists have gotten ahead of themselves. Multiverses, dark matter, string theory, fifth forces, and that asteroid which was supposedly alien technology. These ideas make headlines, but are then either never heard of again – like hundreds of hypothetical particles that were never detected, and tests of string theory that were impossible in the first place – or later turn out to be wrong – all reports of fifth forces disappeared, and that asteroid was probably a big chunk of nitrogen. Have physicists gone too far in their speculations?
The question how much speculation is healthy differs from the question where to draw the line between science and pseudoscience. That’s because physicists usually justify their speculations as work in progress, so they don’t have to live up to the standard we expect for fully-fledged scientific theories. It’s then not as easy as pointing out that string theory is for all practical purposes untestable, because its supporters will argue that maybe one day they’ll figure out how to test it. The same argument can be made about the hypothetical particles that make up dark matter or those fifth forces. Maybe one day they’ll find a way to test them.
O artigo integral recusado pela revistinha cobardolas pode ser encontrado aqui. O ContraCultura recomenda vivamente a sua leitura.
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