Mal se soube que as duas condutas do Nord Stream tinham sido sabotadas, os amplificadores da propaganda regimental iniciaram de pronto o seu eletrificado debitar de decibéis falaciosos: a responsabilidade pelo acto de terrorismo industrial e económico só podia caber a Putin, claro, porque se há um líder capaz de barbaridades neste mundo, esse monstro não pode ser senão o residente do Kremlin.

Nos tempos que correm a propaganda nem precisa de ser sofisticada. Basta ser propaganda. A mentira vale pela mentira. A actividade transformista é virtuosa por si só. Mas neste caso atingiu-se um limite que é difícil de transpor. A ideia de que a Rússia é responsável pelos danos causados no Nord Stream é de tal forma disparatada que 30 segundos de bom senso são suficientes para a reduzir ao zero absoluto. Basta pensar que:

A estrutura que custou “só” 9,5 biliões de euros é propriedade da GazProm, a maior energética russa.

Se Vladimir Putin quisesse neutralizar o gasoduto, bastava fechar a torneira, que é aliás o que tem feito nos últimos tempos, neutralizando por completo a distribuição ou condicionando-a a níveis inferiores ao seu potencial. Não precisava de danificar a conduta, acto que implica um prejuízo brutal em perdas de combustível e nas obras de reparação do equipamento, num ambiente extremamente difícil, que vão ter que ser efectuadas se não agora, num futuro que não poderá ser muito longínquo.

A estrutura é de importância vital para a economia russa, já que por ali é conduzida uma boa parte do gás natural que o país produz.

No contexto da guerra na Ucrânia e da alta tensão internacional, fazer explodir o gaseduto seria, para os russos, como atirar um ás de trunfo para o lixo. Se a Rússia está sem dúvida com dificuldades sérias para fazer valer os seus pontos de vista geo-estratégicos, a destruição da sua principal conduta de gás natural para a Europa não contribuiria em nada para essa validação. O país ficaria mais fraco em argumentos. Nunca mais forte.

Assim sendo, que vantagens teria o presidente russo numa iniciativa desta natureza? Nenhuma, claro está.

Despistada que foi a hipótese russa, e sendo óbvio que uma operação desta natureza, como até os suecos já afirmaram, terá que ser activada por um estado, existem dois suspeitos credíveis: a Ucrânia e os Estados Unidos da América. Vamos por partes.

 

 

Ucrânia: muitas e boas razões para a iniciativa bombista.

A Ucrânia tem todas as razões e mais algumas para cometer este acto de sabotagem: precisamente pela importância monumental que o gasoduto tem para o seu inimigo, a destruição do Nord Stream seria um pertinente e efectivo acto de guerra. Tanto mais que à Ucrânia só convém que a Europa deixe de contar com as energias russas. Menos dependente delas o continente estará ainda mais disponível para auxiliar Zelenski no combate ao invasor russo.

Mais a mais, sabe-se que os a marinha inglesa treinou militares ucranianos para operações “hi-tech” desta natureza. Quem o afirma é a própria Royal Navy:

 

 

A suspeita sai ainda mais reforçada na medida em que nos últimos dias veio a público que, no início deste ano, a CIA reportou às autoridades alemãs que um ataque ucraniano ao Nord Stream seria expectável:

 

 

Seja ou não válida a suspeição – até porque as evidências não deixam de ser circunstanciais – é com certeza mais pertinente do que a tese de que a responsabilidade pelo acto de sabotagem cabe ao país que é proprietário da estrutura sabotada…

 

Estados Unidos: as probabilidades apontam para o suspeito do costume.

A lógica e as evidências disponíveis conduzem necessariamente à tese de que os Estados Unidos estão por trás deste acto terrorista. Como o ContraCultura já referiu, o ex-ministro dos negócios estrangeiros polaco, Radoslaw Sikorski agradeceu aos amigos americanos, num tweet que entretanto foi apagado, por terem danificado o Nord Stream, o que só por si é revelador da validade da suspeita.

Além disso, nenhum país produtor de energia, e os Estados Unidos são o maior produtor de energia do mapa político, ganharia tanto com o fim do abastecimento de gás natural russo à Europa como a federação do Uncle Sam. Em todas as dimensões: económica, financeira, energética e política.

Acresce que em Julho passado, a NATO realizou extensos e duradouros exercícios nas imediações do gasoduto:

 

 

Mas a arma fumegante deste argumento é a que diz respeito a declarações dos mais altos funcionários governamentais americanos. Victoria Nuland, da Secretaria de Estado, afirmou que, caso a Rússia invadisse a Ucrânia, o Nord Stream não poderia continuar operacional:

 


E o próprio Joe Biden, em Fevereiro deste ano, afirmou mesmo que destruiria a estrutura, em caso de violação das fronteiras da Ucrânia por parte do Kremlin:

 

 

É muito, mas mesmo muito difícil não desconfiar que os Estados Unidos não tenham desencadeado esta operação, depois de ouvir estas declarações do seu chefe de estado.

Tucker Carlson desmonta o assunto como só ele sabe, acusando o regime Biden da autoria do atentado e sublinhado dois detalhes muitíssimo relevantes. O primeiro é que o regime Biden acabou de cometer um acto de guerra, directo, contra a Rússia, tornando-se cada vez mais claro que Washington está comprometido com uma intensificação do conflito e sendo certo que esse esticar da corda pode acabar num confronto termo-nuclear.

O segundo detalhe é que o atentado está a provocar uma catástrofe ambiental no Báltico. E os seus autores materiais são os mesmos radicais ambientalistas do Partido Democrata que nos estão constantemente a berrar nas orelhas ameaças de apocalipses climáticos, fazendo tudo o que podem para restringir a actividade industrial e agrícola e condicionar o comportamento dos cidadãos em nome da “salvação” do planeta. Percebemos assim claramente que a questão das alterações climáticas e dos impactos ambientais é apenas uma ferramenta retórica para subtrair mais e mais direitos e liberdades aos cidadãos, aumentando exponencialmente o controlo sobre as suas vidas. Porque ninguém com preocupações ecológicas sérias e genuínas se lembraria de fazer explodir uma conduta submersa de gás natural: as quantidades de metano que estão a ser libertadas para o oceano e a atmosfera são verdadeiramente catastróficas.

 

 

Como sempre quando se analisa o comportamento da administração Biden, dá a sensação que a destruição económica e civilizacional e até, por ironia, ambiental, tem que ser um objectivo da sua agenda. E quanto pior, melhor.