Num movimento que viola a lei e a tradição católica, os altos clérigos do Vaticano, secundando o pensamento do Papa Francisco, estão a avançar no sentido de dar prioridade ao ambientalismo em detrimento da oposição ao aborto.
Um alto funcionário do Vaticano atordoou os católicos durante uma recente entrevista na televisão italiana, anunciando que a Igreja Católica não se oporia a uma lei que permitisse o aborto.
O Cardeal Vincenzo Paglia, presidente do Pontifício Conselho para a Vida, chamou mesmo à lei “um pilar da nossa vida social”.
A Lei italiana 194, promulgada em 1978, legaliza os abortos no primeiro trimestre e permite o aborto depois, se a gravidez puser em perigo a vida da mãe ou se os médicos descobrirem o que a lei chama “anomalias graves ou malformações” no feto.
Quando perguntado se a Lei 194 era polémica no seio do Vaticano, Paglia respondeu: “Não, absolutamente não”.
Tommaso Scandroglio reagiu sem rodeios, escrevendo no jornal católico La Nuova Bussola Quotidiana:
“É como se o presidente da Liga Judaica Anti-Difamação se declarasse a favor do Holocausto”.
Considerando que o Papa João Paulo II fundou o Pontifício Conselho para a Vida para combater o aborto, os comentários dos seu actual presidente são de tirar o fôlego. No entanto, esses comentários representam uma tendência assustadora.
Sob o Papa Francisco, a Igreja Católica abandonou a sua tradicional oposição ao aborto para defender a sustentabilidade ambiental e a redistribuição económica. Duas encíclicas, “Laudato Si” sobre o ambiente e “Fratelli Tutti” sobre economia, definem a visão do mundo de Francisco.
A tépida reacção oficial do Vaticano à decisão do Supremo Tribunal americano que derrubou Roe v. Wade simboliza esse recuo. Num editorial, o jornal oficial do Vaticano, L’Osservatore Romano, definiu o debate assim:
“Uma questão de desenvolver escolhas políticas que promovam condições de existência em favor da vida, assegurando uma educação sexual adequada, garantindo cuidados de saúde acessíveis a todos e preparando medidas legislativas para proteger a família e a maternidade, superando as desigualdades existentes”.
Mas o Vaticano enviou o seu sinal mais óbvio a 7 de Maio de 2021, quando a mais alta autoridade teológica da Santa Sé depois do Papa, O Cardeal Luis Ladaria, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, endereçou uma carta aos bispos americanos desencorajando-os a recusarem a comunhão aos dirigentes políticos que apoiam a legalização do aborto. Esses políticos incluem os dois católicos mais proeminentes da política americana: o Presidente Joe Biden e a speaker da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi. Nessa carta podemos ler que:
“Seria enganoso se tal política desse a impressão de que o aborto e a eutanásia constituem por si só os únicos assuntos graves do ensino moral e social católico ou que exigem o mais alto nível de responsabilização por parte dos católicos”.
Ladaria até utilizou um termo extremamente carregado de conteúdo ideológico – “pro-choice” – para qualificar os católicos que apoiam o aborto. A sua carta pode ser o primeiro documento oficial do Vaticano a usar um termo tão partidário, e contradiz o catecismo da sua própria igreja, violando abertamente a lei canónica.
O catecismo católico descreve o aborto como um mal moral, rotulando-o como infanticídio e categorizando-o no conjunto dos crimes abomináveis, exigindo a excomunhão para qualquer pessoa que coopere formalmente com a prática. A lei canónica católica afirma que os católicos “perseverantes em pecado grave manifesto não devem ser admitidos à santa comunhão”.
Dois acontecimentos em torno da carta de Ladaria também demonstraram o desejo de Francisco em desvalorizar o aborto. A 6 de Maio, o Vaticano iniciou uma conferência de três dias sobre cuidados de saúde que contou com três oradores proeminentes que apoiam ou toleram a terminação da gravidez. Chelsea Clinton, vice-presidente da Fundação Clinton e apaixonada activista da legalização do aborto, participou num painel sobre “Construir um sistema de cuidados de saúde mais equitativo para todos”. O Dr. Francis Collins, ex-director do Instituto Nacional de Saúde americano, que apoia a utilização de tecido fetal na investigação científica, falou sobre “Fazer Convergir a Ciência e a Fé”. Um outro orador, Stephane Bancel, CEO da Moderna, uma das empresas que financiou a conferência, é responsável pela utilização de células de fetos abortados na criação da proteína mRNA para as vacinas Covid-19 desta farmacêutica.
Depois, a 14 de Maio, outra conferência do Vaticano, “Sonhar com um Novo Recomeço”, contou com mais dois defensores do aborto. O economista colombiano e alto conselheiro papal, Jeffrey Sachs, falou sobre “Solidariedade Financeira e Fiscal“. John Kerry, o czar climático de Biden, que se diz católico, proferiu a palestra principal na segunda sessão, “Sustentabilidade Ecológica Integral”.
Sachs, que escreveu os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, acredita que o aborto é fulcral para o controlo populacional. No seu livro “Common Wealth: Economia para um Planeta Multidimensional”, podemos ler que:
“O aborto é uma opção de menor risco e menor custo, que reduz significativamente a taxa de fertilidade total de um país, ao impedir o nascimento de crianças indesejadas”.
Três anos antes da controvérsia em torno das observações de Paglia, outro funcionário papal, o Cardeal Marcelo Sanchez Sorondo, Chanceler dos Conselhos Pontifícios para a Ciência e as Ciências Sociais, fez comentários ainda mais espantosos:
“Neste momento, aqueles que estão a implementar a doutrina social da Igreja são os chineses.”
Sorondo elogiou a implementação pela China do “Laudato Si” por “defender a dignidade da pessoa” e “assumir uma liderança moral que outros abandonaram”, referindo-se à retirada do Presidente Donald Trump do Acordo de Paris sobre emissões de dióxido de carbono.
Os elogios de Sorondo ignoraram o facto de a China ser um dos países mais poluidores do mundo e realizar entre 10 milhões e 23 milhões de abortos por ano, muitos dos quais forçados pelo governo.
Os bispos americanos adoptaram a posição de Francisco. Num guia de votação publicado um mês antes das primárias de 2020 na Califórnia, Robert McElroy, de San Diego, insistiu que a política do papa sobre o meio ambiente prevalecia sobre a oposição histórica ao aborto e à contracepção.
Embora tenha chamado ao aborto “intrinsecamente mau”, McElroy criticou a ideia de que os candidatos que procuram leis que se opõem a acções intrinsecamente más têm automaticamente uma reivindicação primária de apoio político na consciência católica.
“O problema com esta abordagem é que embora o critério do mal intrínseco identifique actos humanos específicos que nunca podem ser justificados, este critério não é uma medida da gravidade relativa do mal em particular das acções humanas ou políticas (…) É um mal moral muito maior para o nosso país abandonar o Acordo Climático de Paris do que fornecer contraceptivos nos centros de saúde federais”.
Francisco recompensou McElroy fazendo dele um cardeal a 27 de Agosto, apesar de McElroy alegadamente ignorar os casos de abuso sexual clerical.
Para além da óbvia e muito preocupante questão da heresia, interpretada nada mais nada menos do que pelo sumo pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana, ao sacrificar os inocentes no altar da moda intelectual, do sectarismo político e da agenda das elites, o Vaticano está a destruir a sua credibilidade moral.
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