Baseado no real e misterioso desaparecimento de 3 faroleiros nas remotas Ilhas Flannan, “The Vanishing”, de 2019, realizado por Kristoffer Nyholm, é um daqueles filmes feitos à moda antiga, que têm uma história para contar e uma moral da história para deixar a fermentar na consciência do seu público.
A fita é um thriller clássico sobre o pecado e as suas consequências, geralmente fatais, no percurso existencial imediato e mediato dos seus perpetradores. É também um muito bem conduzido ensaio sobre a banalidade do mal, demonstrando como é fácil a queda do homem, num mundo repleto de abismos.
Apesar de estarem a trabalhar sobre um guião com muitos silêncios difíceis de tornar eloquentes, os actores mostram-se credíveis nos seus austeros papéis, contribuindo com profundidade humana e intensidade abundante para a obra ao negro. Até Gerard Butler, que é um canastrão, consegue brilhar. E isto não é dizer pouco.
A sobriedade do método cinematográfico, que compactua esplendidamente com a cenografia inóspita destas ilhas escocesas, a parcimónia dos diálogos e um incomum pudor nas sequências mais violentas, contribuem em muito para que a produção ganhe virtude ética e estética.
Mais a mais, o filme está a passar no canal Hollywood (“O Mistério da Ilha Flannan”), pelo que se trata de um momento raro em que o escravizado subscritor dos miseráveis serviços de telecomunicações que operam sem freio no território nacional pode rentabilizar as muitas dezenas de euros que paga mensalmente pelo péssimo serviço de televisão que lhe é desavergonhadamente servido.
Uma fita para ver e rever. Dada a sua conceptual raridade.
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