O ContraCultura opõe-se veementemente às doutrinas do pós-modernismo e é um feroz adversário das  suas manifestações nas artes plásticas. Ainda assim, e porque não há regra sem excepção, o trabalho de José Manuel Ballester , padecendo profundamente da influência dessa filosofia, merece reflexão, pela originalidade conceptual que traz para o debate sobre a arte e nela, a substância antrópica.

Numa série que intitulou “Os Espaços Ocultos” Ballester despoja digitalmente da figuração humana um conjunto de obras-primas, para desvendar apenas os seus conteúdos cenográficos. O olhar é assim entretido com aquilo a que tem prestado menos atenção e a geografia toma o lugar da ontologia.

 

 

 

O exercício obriga à reflexão  e – de certa maneira – a uma relação de intimidade entre criador e espectador: somos confrontados com os cenários primordiais que alguns dos grandes artistas da história da arte escolheram para enquadrar as suas narrativas. Desconstruídas conceptualmente, vazias de protagonismos, estamos a ver estas obras como elas foram pensadas antes de serem pintadas, antes até de terem uma história.

 

 

 

Mas, se calhar ao contrário do que é pretendido por Ballester, a experiência também nos conduz a um desespero: o da solidão. Há como que um apocalipse nestas representações desertas. Como se de repente o observador estivesse a sós com a sua condição de Sapiens. Como se nem os mestres criadores tivessem afinal existido.

Esse arrepio escatológico não deriva somente da ausência física dos personagens. Há nestas especulações de Ballester como que um eclipse da razão. Despida de pessoas, fica também a pintura nua de significado.

 

 

O que sobra, sem a comédia humana, são naturezas mortas. Lugares sem função. Localizações aleatórias. Uma ideia concreta de espaço sem drama nem glória nem razão nem que lhe dê sentido.

O cosmos, sem o Sapiens, não tem préstimo.