“Os pós-modernistas não podem simplesmente defender o marxismo só porque souberam inventar, com um truque de prestidigitação, um acervo de razões pelas quais o marxismo não resultou, porque isso é demasiado perigoso para os restantes seres humanos que tentam orientar as suas vidas para o bem. Não podemos permitir que estas pessoas nos manipulem com a sua ignorância histórica e o seu ilusionismo filosófico e nos responsabilizem pelos pecados que os nossos antepassados podem ou não ter cometido. Não podemos permitir que falsos conceitos de vergonha e culpa sejam usados para nos obrigar a aceitar um futuro que não queremos ter.”
Jordan B. Peterson . Conclusão da palestra “Identity Politics and the Marxist Lie of White Privilege” – University of British Columbia
O psicólogo canadiano Jordan B. Peterson, estrela rock do panorama filosófico actual, não precisa de grandes apresentações. O seu “12 Rules For Life” já foi traduzido em mais de 40 línguas, tendo chegado a número um de vendas na Austrália, no Brasil, no Canadá, nos Estados Unidos, na Holanda, no Reino Unido, na Nova Zelândia e na Suécia. Até o New York Times, ao mesmo tempo que omitia escandalosamente a obra na sua famosa lista de livros mais vendidos, foi obrigado a considerar que este é “o mais influente pensador do mundo ocidental”. O canal de Peterson no Youtube soma mais de 250 milhões de visualizações e 1,8 milhões de subscritores. Até ser recentemente suspensa, a sua conta de Twiter tinha 2,8 milhões de seguidores. Através do Patreon, uma plataforma online que angaria fundos para uma diversidade enorme de projectos, Peterson garante que milhares de admiradores financiem a sua frenética actividade com cerca de dois milhões de dólares por ano. O contracto com a plataforma de streaming DW+ assinado este ano projecta-o como um comunicador de massas absolutamente recordista, talvez o filósofo com maior audiência na história da humanidade.
Mas, como este é o primeiro artigo do ContraCultura inspirado nos ensinamentos do professor de Toronto, recuemos um pouco no tempo. Em 2017, Peterson já tinha o seu público, mas era ainda uma figura académica alternativa, sobretudo reconhecida no panorama intelectual norte americano pela sua defesa intransigente da liberdade de expressão e pelas suas palestras e conferências sobre temas políticos e religiosos, geralmente interpretados sob o ponto de vista da psicologia.
Numa dessas brilhantes conferências, Jordan Peterson reduz o marxismo e o consequente pós-modernismo a categorias erráticas – e criminosas – do pensamento humano, com brava erudição e eloquência. Este é registo vídeo desse monólogo. Dada a sua extensão, o clip está codificado para começar a meio, num momento ímpar em que as palavras deste eminente pensador contemporâneo ganham luz de primeira grandeza e um poder impressionante.
O marxismo foi tentado, nos últimos cem anos, em países tão diferentes, em culturas tão diversas, como a Rússia e a China, O Cambodja e a Venezuela, a Roménia e o Irão. Em todos os casos gerou sistemas totalitários desumanos, estados falhados em termos económicos e civilizacionais e, na sua maior parte, em genocídios recordistas. Ainda assim, a esquerda não soube reconhecer o seu dramático erro filosófico e procurou construir uma espécie de redenção através do pós-modernismo, uma forma de relativização moral que deu continuidade ao pensamento de Marx e de Lenine.
“A memória não serve para te lembrares do passado. A memória serve para que não cometas os mesmos erros estúpidos no futuro.”
Isto embora, na verdade, o pressuposto pós-moderno de que a realidade tem infinitas interpretações, logo infinitas plataformas éticas e morais – seja um erro flagrante, na medida em que as interpretações que nos interessam são apenas as viáveis (no sentido da função social, da função económica, da função moral – a curto, médio e longo prazo) e estas não só são finitas como, na verdade, são escassas.
Através dessa niilista ausência de valores absolutos e de verdades morais estruturantes, o marxismo pós-modernista pôde aniquilar a metafísica, com especial cuidado exterminador a incidir no Cristianismo. A substituição dos valores cristãos por ideologias draconianas de base utópica, de virtude não demonstrável no presente do indicativo, pode contribuir no imediato para preencher o vazio de transcendência, mas será sempre um eixo de alienação das massas e não de redenção individual.
“Se a religião é o ópio das massas, o comunismo é a metanfetamina das massas.”
O produto histórico é assim, na filosofia de Peterson, o resultado épico da luta contra o mal. Contra o caos que é inevitável (mais inevitável do que a ordem), mas que tem sido equilibrado pelo paradigma da tradição judaico-cristã. Ao aniquilarmos, como temos feito no século XXI, os valores dessa tradição, estamos a colocar em perigo um equilíbrio periclitante. Porque Peterson concorda com Calvin: há monstros debaixo da cama. Há predadores na escuridão. Convém que cada um de nós faça o que for possível para que esses monstros permaneçam em repouso nas trevas, esse perímetro determinado pela civilização. Caso contrário, um apocalipse não é apenas possível. É bastante provável.
Acresce que a vertente igualitária resultante do relativismo do pensamento pós-moderno, baseia-se num falso exercício de taxonomia. As pessoas diferem mais do que apenas pelas categorias básicas de raça, sexo ou estatuto sócio-económico. As pessoas diferem nas suas capacidades intelectuais, no seu temperamento, na sua fisionomia, na sua cultura, na sua visão da família, da vida, da amizade, do trabalho, da religião, da política.
E não podemos equalizar todas essas disparidades, pois não? Será desejável que todas as pessoas sejam igualmente atraentes? Igualmente inteligentes? Igualmente temperadas? Igualmente enculturadas? As diferenças entre os indivíduos não são equalizáveis, a não ser sob jugos regimentais que são esmagadores da condição e da liberdade humanas.
“Quanto mais gritares pela igualdade, mais vais admirar inconscientemente a dominação.”
Por trás destes falsos recursos filosóficos, a esquerda ocidental tem construído o mito do Privilégio do Homem Branco, opressor de mulheres, classes, raças, etnias, minorias e etc. Uma tese histórica e cientificamente falaciosa, mas dominante nas academias, que procura manipular a opinião pública e orientá-la no sentido do absurdo. Este Homem Branco não é uma entidade histórica coerente, sequer. Por exemplo: o Homem Branco Opressor é Trump, mas não pode ser Lenine. Será Hitler, mas não Guevara. O Homem Branco será o judeu de Israel mas não o judeu de Auschwitz. Não há, obviamente, um só Homem Branco Opressor no Partido Democrata Americano; Justin Trudeau, como todos sabemos, é negro ou, pelo menos, mestiço e, para surpresa de todos, Kennedy não é um Homem Branco. Não como Margaret Tatcher.
Este último devaneio, claro, é da autoria do Contra-Cultura. Mas a vantagem grande de ouvir Jordan B. Peterson é que as suas palavras germinam fecundas no intelecto dos audientes. São provocantes e lúcidas: fazem comichão nos neurónios. E é dessa comichão, a que também se pode chamar liberdade, que estamos todos, aqui deste lado ocidental do mundo, a precisar com urgência.
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