Farto-me de rir com os americanos. Continuam a achar que um septuagenário construtor civil de Brooklin, com a capacidade intelectual de um adolescente no cio e a visão de um morcego num dia de sol radioso, vai regressar para salvar a América. A América é uma nação que não tem salvação possível, agora. Mas em 2025, depois de mais três anos da escatológica administração Biden, não haverá sequer uma nação para salvar. E mesmo que fosse salvável agora, e mesmo que ainda seja qualquer coisa de parecido com uma nação em 2025, e mesmo que Trump volte a ser eleito, que pode fazer um homem velho e de limitada inteligência, odiado pela burocracia federal de Washington e pela classe média suburbana das costas leste e oeste, desprezado pelas elites financeiras de WallStreet e pelos conselhos de administração do complexo industrial; hostilizado pelas altas patentes do Pentágono, do FMI e da CIA, manietado pelos barões da imprensa mainstream e pelos senhores do universo de Silicon Valley, ignorado pelos reais detentores do poder legislativo no Congresso (mesmo os republicanos) e do poder local nos principais centros urbanos da nação (quase todos democratas)?
Que poderá este improvável Sebastião realizar com um país ideologicamente fracturado e com um império caído, literal e metaforicamente, em banca rota espiritual e material, sem credibilidade internacional nem influência estratégica, sem moeda de referência nem plataforma filosófica nem legitimidade moral, projecto falhado que é objecto de chacota nos corredores do poder em Beijing, Moscovo, Rhiad, Nova Deli, Tóquio e Bruxelas?
Esta triste profissão de fé da direita populista americana, que anuncia constantemente o regresso místico de Donald como se de um profeta se tratasse, é em si mesma um sinal evidente da decadência absoluta em que caiu o império. O homem tem tanto de profeta como o pato homónimo.
Farto-me de rir com os americanos. Permanecem crentes de que vivem no melhor dos mundos, como se nada tivesse acontecido desde que Ronald Reagan se reformou. Vivem embrulhados numa ditadura abstrusa, governados por um presidente demente que roubou as eleições e por um congresso corrupto até ao limite capilar; censurados pelos oligarcas de Sillicon Valley, controlados pelos espiões de Langley e manietados pela polícia política em que se transformou o FBI; desinformados pela imprensa activista de mentirosos profissionais e apparatchiks radicais; enviados, geração sobre geração, para a morte inútil pela máquina de cinzas que é o Pentágono; empobrecidos pela globalização que as suas próprias multinacionais desencadearam e desprezados pelas suas elites. Ainda assim, insistem numa vaidade espúria sobre as virtudes de uma nação sem virtudes.
O patriotismo americano contemporâneo é um fenómeno trágico-cómico.
Farto-me de rir com os americanos. Não só ainda acreditam que têm um império (na verdade nunca o tiveram porque sempre foram uma potência em negação), como acham disparatadamente que são cidadãos da mais bem sucedida nação da História. Não podiam estar mais errados. O domínio americano não chegou a durar um século e caiu em dez anos. Como exercício hegemónico, não durou mais que duas décadas. Ingleses, austro-húngaros, holandeses, franceses, portugueses, otomanos, árabes, tártaros, romanos, gregos e chineses construiram civilizações imperiais que duraram muito mais tempo e deixaram uma marca na História Universal bem mais significativa. Daqui a cem, duzentos anos, o que restará do triste episódio americano? Muito pouco. O seu legado cultural é pobre, a sua língua não é um produto original, o seu regime constitucional é evidentemente frágil. Tudo o que fizeram foi mau capitalismo, mau cinema, má comida, tecnologia pela tecnologia (diabólica por definição) e guerras à fartazana. Muitas delas, perdidas.
Deviam cair na realidade. E ganhar vergonha.
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